As diversas diretorias do Sindicato

No início de 1946 o “Sindicato dos Pedreiros, Carpinteiros e Anexos” passa a denominar-se “Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Construção Civil de Salvador”. Participa ativamente da preparação do III Congresso Sindical Baiano, em fevereiro de 1946 foram nomeados os “representantes junto aos trabalhos de organização do 3º Congresso, sendo os seguintes trabalhadores componentes da Comissão: Júlio José de Santana, Domingos Manoel dos Santos, Manoel Marinho dos Santos, Augusto Mercês do Nascimento, José Martins dos Santos e Benedito Manoel do Nascimento”. (O MOMENTO, 11/02/1946)

A década de 1950 foi um período de extrema importância para o movimento dos trabalhadores brasileiros e na Bahia, o Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Construção Civil de Salvador convoca as eleições para a gestão de 1956 a 1958. As eleições ocorrem no dia 08 de abril de 1956, concorreram duas chapas, sendo eleita a “Chapa União, Ordem e Trabalho”, que obteve 94 votos e no dia 12 de abril de 1956 foi empossada a nova diretoria.

As eleições para a gestão de 1958 a 1960 ocorre em terceira convocação. Votaram 238 associados na única chapa que concorreu ao pleito e foram eleitos para a diretoria. Em abril de 1960, o Ministério do Trabalho baixa uma portaria alterando a data das eleições sindicais e isso atinge os Sindicatos, as Federações e Confederações de empregados e empregadores de todo o país. Assim em 28 de agosto em segunda convocação houve as eleições para a gestão de 1960 a 1962, com a votação de  308 dos associados para eleger a diretoria.

A partir de 1962 surge um grupo de oposição a diretoria e o Sindicato publica uma nota no Jornal A Tarde do dia 16/08/1962, com título “Trabalhadores da Construção Civil trabalham contra o Sindicato”, denunciando que “um grupo opositor interessado na desagregação da classe, vinha criando uma situação de discórdia, gerando dificuldades e desentendimentos dentro da própria diretoria”. Mesmo com essa oposição em 26 de agosto de 1962 foi publicada a  convocação das eleições do Sindicato e em segunda convocação e a diretoria foi eleita  com os seguintes membros: Presidente: Adelson Andrade, Secretário: Lourival Balbino Gomes, Tesoureiro: Vital G. dos Santos, 2º Tesoureiro: José Cândido Veloso, Arquivista: Sizínio Ramos da Silva, Síndico 1: Silvio José dos Santos e o Síndico 2: Walter Hyne Bastos.

Em novembro o jornal A Tarde de 26/11/1962 publica nota com o seguinte teor: ”O Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Construção Civil de Salvador, resolveu determinar paralização geral dos serviços da construção civil no próximo dia 28, em sinal de protesto e advertência contra o alto custo de vida e o desrespeito dos empregadores daquela categoria profissional que vem se negando a pagar o 13º salário (abono de Natal). Prometem ainda, os trabalhadores na indústria da construção civil que se até o dia 20 de dezembro não for pago o 13º salario, os trabalhadores serão novamente paralisados e só suspenderão a greve depois de indenizados”.

Em janeiro de 1964, o presidente do Sindicato Adelson Andrade sofre um acidente, quando é obrigado a deixar provisoriamente a diretoria. Nessa época não havia o cargo de vice-presidente, a diretoria comunica em nota publicada no jornal A Tarde de 15/01/1964, que em virtude do afastamento do presidente foi feita uma nova composição para a diretoria como os seguintes membros: O Tesoureiro, Vital Gomes dos Santos, passa a ocupar o cargo de presidente, o 2º Tesoureiro que era José Cândido Veloso, passa a ocupar o cargo de Secretário e o Arquivista que era Sizínio Ramos da Silva, passa a ocupar o cargo de Tesoureiro. A Federação dos Trabalhadores na Industria convoca o IV Congresso dos Trabalhadores Baianos para os dias 29, 30 e 1º de maio de 1964. Em 31 de março do mesmo ano ocorre o golpe militar no país e toda a situação muda. A polícia invade muitos sindicatos e centenas de líderes sindicais foram perseguidos, presos e torturados.

O presidente Adelson Andrade, imediatamente reassume o cargo e logo manda publicar uma nota no jornal A Tarde de 29/05/1964 com o seguinte teor: “O Sr. Adelson Andrade reassume o cargo de presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil de Salvador no Estado da Bahia. Líder inconteste da classe, defensor intransigente dos princípios democráticos, sempre teve contra si a oposição de elementos comprometidos com “ideologias negativas” e a todos combateu, afastando-se sempre do quadro social daquela entidade”.

Mesmo publicando essa nota no jornal, confessando-se “pelego de carteirinha” o presidente do sindicato Adelson Andrade, passa a ser denunciado sistematicamente, por um grupo oposição que surge durante o seu mandato. Esse grupo é  liderado por José Cândido Veloso, que o acusa de  receber dinheiro do sindicato e usar em seu próprio benefício. Em nota publicada no jornal A Tarde de 28 de junho de 1964, Adelson se defende dizendo que: “um grupinho de comunistas, que foi posto para fora do sindicato, juntou-se lá fora com o responsável por aquela coluna do jornal, que só tem trazido intrigas para o sindicalismo baiano”.

José Cândido Veloso, era uma articulador e seu objetivo era tirar Adelson da direção do sindicato para que assim pudesse assumir. E foi nesse jogo que na eleição de 1962-1964, conseguiu participar da diretoria como 2º Tesoureiro, durante o afastamento do presidente Adelson Andrade. Quando retorna do afastamento, o presidente convoca outra eleição  e José Cândido Veloso, que já era seu inimigo declarado, não poderia participar da composição da diretoria. Assim, ele só retorna ao sindicato fazendo uma campanha de oposição radical, contra o presidente Adelson Andrade, tanto nas assembleias como na imprensa. O clima entre os dois é de extrema disputa, com notas no jornal de acusações pessoais, sem respeitar a integridade da categoria. Foi nesse clima de discórdias que numa assembleia, em votação secreta foi aprovado o dissídio coletivo que estabelecia a jornada de trabalho de 48 horas semanais de trabalho, ainda com prorrogação de duas horas extras.

Esse grupo de oposição liderado por José Cândido Veloso encaminha a DRT um pedido de intervenção no sindicato,   publica uma nota no jornal A Tarde no dia 8/10/1966, acusando o presidente Adelson Andrade de ter assinado um acordo “que ultrapassava as barreiras da imoralidade, onde ao mesmo tempo assinava como pessoas física e pessoa jurídica”. Em outubro o jornal A Tarde de 11/10/66, a Delegacia Regional do Trabalho publica uma nota nomeando o Bel. Rubens Borba Ramos para interventor do sindicato com o seguinte teor: “Muito se tem falado de desmandos na administração do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil e com a medida agora posta em prática pelo Ministério do Trabalho poderão eles, se existirem, ser apurados”. A intervenção prolonga-se até 13 de abril de 1967, quando ocorre a eleição em 2ª convocação, com duas chapas inscritas para concorrer ao pleito. A chapa 1 foi encabeçado por José Cândido Veloso e a chapa 2 por Adelson Andrade, presidente do sindicato antes da intervenção. Dos 309 associados, votaram 155 e a chapa eleita foi a 1 com 98 votos.

José Cândido Veloso, consegue então seu objetivo maior que era de ser o presidente do sindicato e  seu mandato inicia em 1967 e só termina com a “Revolta dos Peões” em 1989. Ao assumir a diretoria, adota uma postura de conciliação com o patronato, o sindicato torna-se uma entidade de caráter meramente assistencialista, subserviente aos patrões e obediente ao governo militar, até anos após o fim da ditadura. Realiza assembleias regulares para discutir as rotinas burocráticas da entidade, a exemplo dos serviços da Secretaria Geral, não tem a menor preocupação ou compromisso com as necessidades da categoria profissional que vivencia um processo de abandono e extrema exploração nas obras, limitando-se a atender os ditames patronais.

diretoria de Veloso
Diretoria do sindicato com José Cândido Veloso que teve a duração de 1967 e encerrando em 1989 com o movimento “A Revolta dos Peões” Foto/Arquivo do SINTRACOMB-A

Durante as muitas gestões de José Cândido Veloso o controle do sindicato tornava-se cada vez mais fechado e os trabalhadores cada dia mais distanciados de sua representação. Nessa época, a categoria sofre uma brutal exploração patronal, como nunca tinha se visto. Em 1978 um grupo de operários que frequentava as assembleias, não suportavam mais aquela situação e  liderados por Daniel Francisco,  juntamente com Pedro Paulo Moreira, Idelfonso Germano dos Santos e Manoel da Paixão e outros, tentaram inscrever uma chapa para concorrer às eleições, mas, são impedidos pelas ações da violenta diretoria do sindicato. Alguns anos após essa investida, em 1983 o mesmo grupo de associados, descontentes com a condução do sindicato, exige que o presidente José Cândido Veloso convoque uma assembleia para eleger delegados para o CECLAT – Congresso Estadual da Classe Trabalhadora. E assim, depois de muitas discussões e argumentos, foram eleitos Pedro Paulo Moreira, Daniel Francisco, e Idelfonso Germano dos Santos para participarem do evento.

Em abril de 1986, o mesmo grupo retorna mais uma vez, para discutir a participação da categoria no 1º de maio, onde seriam aprovadas as bandeiras de lutas: reforma agrária, garantia de emprego, abaixo as demissões arbitrárias, reativação da construção, urgente e alimentação para os desempregados. O grupo aproveitando-se da aproximação e do prestígio inicial, pelas participações nas assembleias, mais uma vez, forma uma chapa encabeçada novamente por Daniel Francisco como presidente, para disputar as eleições. Houve a eleição, contudo, o resultado da contagem dos votos, deu empate para a surpresa de Veloso, que como um bom articulador tratou de buscar o apoio da polícia e da Delegacia Regional do Trabalho, fazendo uma recontagem dos votos, dando a vitória a chapa de Veloso por um voto de diferença.

 

Por: F.Barreto

 

Fonte:

Jornais, Atas do SINTRACOM-BA e Sintracom em Revista

 


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Fatima Barreto