A indignação dos trabalhadores era enorme e não havia mais condições de suportar tanta exploração dos patrões e a postura indiferente da diretoria do sindicato. O grupo formado Daniel Francisco, Pedro Paulo Moreira, Idelfonso Germano dos Santos e Manoel da Paixão, que havia concorrido às eleições anteriores, não desiste da luta e continua a organizar os trabalhadores, agregando novos companheiros ao movimento e dentre eles se destaca Washington José de Souza, velho militante comunista e sindicalista, que também passa a frequentar as assembleias. No dia 29 de novembro de 1988 a diretoria do Sindicato presidida por José Cândido Veloso convoca uma Assembleia, publicando o edital no Diário Oficial, para discutir e aprovar a seguinte pauta: 1 – Suplementação de verbas para o sindicato; 2 – Aprovação da proposta de Acordo Coletivo de trabalho.
Ocorre que, pela forma como foi feita a convocação, os trabalhadores nas obras não tomaram conhecimento da assembleia e só compareceu a própria diretoria e alguns membros do Grupo de Oposição Classista que estavam atentos às manobras dessa diretoria. Assim, estiveram presentes apenas 25 pessoas incluindo a diretoria, que aprovou a proposta de Acordo Coletivo para os trabalhadores, sem nenhuma discussão com os interessados. Considerando toda essa situação o Grupo da Oposição Classista não aceitou a forma como a diretoria do sindicato conduziu o processo. Reuniu os companheiros e colheu as assinaturas dos trabalhadores para legitimar a convocação de uma assembleia que se realizaria no dia 29 de novembro de 1988, no Sindicato dos Bancários, cuja pauta principal era a expulsão da diretoria do sindicato liderada por Veloso.
A assembleia ocorreu na data prevista, estiveram presentes centenas de trabalhadores e assim, foram explicadas às manobras da diretoria que já havia aprovado na assembleia o Acordo Coletivo sem a presença dos trabalhadores.Todos ficaram indignados com a forma como a diretoria em exercício vinha manipulando os destinos da categoria. Depois de muitas discussões, foram aprovados uma série de atos de protesto, como paralisações nas obras e passeatas pela cidade. A primeira sairia do Campo Grande à Praça Municipal, para protestar contra a atitude autoritária e patronal da diretoria do sindicato chefiada por Veloso. Foi assim, que começaram a florescer as primeiras sementes do movimento, denominado “A Revolta dos Peões”, em razão, das grandes passeatas que denunciavam a situação de exploração dos trabalhadores da construção civil, ocupando diariamente às ruas da cidade de Salvador.
No dia 19 de outubro de 1989 cerca de 10 mil operários, marcharam pelas ruas do centro da cidade em passeata de protesto contra os baixos salários e a exploração que viviam. Durante todo o dia, eles se movimentaram em vários bairros, fazendo “piquetes” nas obras. O Jornal da Bahia de 29/10/1989 publica matéria informando que “o comando de greve estima 56 mil o número de operários parados”. Os trabalhadores mobilizados realizaram várias assembleias e passeatas lutaram junto com a Oposição Sindical Classista liderada por Washington de Souza.
O fato social estava criado e nascia assim a “Revolta dos Peões”, como uma explosão dos trabalhadores revoltados pela exploração que estavam submetidos ao longo de muitos anos. O sindicato patronal sem alternativa para suas manobras, foi obrigado a negociar com comissão do comando de greve composta por Washington José de Souza, Raimundo Ferreira Brito, Pedro Souza Estrela, Amando de Jesus e a única mulher do grupo Maria de Lourdes Gonzaga e também os ativistas sindicais solidários ao movimento, Everaldo Augusto (bancário) e Patrício (operário têxtil).
As negociações entre a Comissão Sindical, eleita em assembleia para assumir o papel de representação do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria da Construção Civil e o Sindicato da Indústria da Construção Civil (patronal), resultou numa Convenção Coletiva, composta por 52 cláusulas, com vigência entre 1º de janeiro a 31 de dezembro de 1990, que imediatamente registrada na Delegacia Regional do Trabalho, para que não houvesse dúvidas sobre a sua legalidade e cumprimento.
Por: F.Barreto
Fonte:
Jornais, Atas do SINTRACOM-BA e Sintracom em Revista.